Pular para o conteúdo principal

Você tem fome de quê?

Todas as pessoas, em sã consciência, ficam indignadas com a fome que assola o mundo e também o Brasil. Estatísticas dão conta de que um terço da população brasileira é mal nutrida, 9% das crianças morrem antes de completar um ano de vida. Herbert de Souza, o Betinho, afirmou que “Quando uma pessoa chega a não ter o que comer é porque tudo o mais já lhe foi negado .” É a morte em vida. Instaura-se, dessa forma, uma grande contradição, pois sendo o Brasil o quinto país em extensão territorial com 8,5 milhões de hectares de terras e que produz 70 milhões de toneladas de grãos, é de se escandalizar com o número crescente e gigantesco de miseráveis famintos.

Por outro lado, surgem as “fomes” geradas no seio da modernidade, a fome de conhecimento, de carinho, de justiça, de prazer. Esse tipo de fome vem mascarado, por isso é tão perigoso. Não que a carência de alimentos não seja, mas ela está diante dos olhos de todos que veem e enxergam.
A fome a que se refere é a que nasce da angústia do homem moderno, que no afã de querer ser super-homem, esquece-se de que além de alimentar o físico, é essencial que se sacie a alma.
Quantos se esquecem de se abastecerem com conhecimento, que é , sem dúvida, o passaporte para a cidadania efetiva, que não lêem por não ter tempo, que não se aprimoram porque já sabem tudo, que ignoram o que semelhante diz, porque se satisfazem com o universo limitado do próprio conhecimento...
Já a fome de carinho é visível se for feita uma análise do crescimento da agressividade, do nepotismo, da falta de solidariedade, e a raiz de tudo isso é a carência de afetividade que surge independente da classe social, da idade, do sexo...
Sem falar na fome de Justiça que sofrem milhares de cidadãos que se sentem ultrajados por não terem seus direitos colocados em prática, é como se o muro do poder impedisse que a Justiça chegasse a todos sem distinção...
É assustador perceber com que naturalidade fomos virando um país de “famintos”, com que rapidez fomos produzindo “indigentes” em todos níveis. Nesse momento, é que se crê que a fome que destrói qualquer tipo de progresso, é a fome de prazer, pois só com vontade, com gosto pelo que se faz é que se consegue acabar com as “fomes “ que levam à degradação humana, porque é com a indiferença que se construí esse cenário dantesco. E somente com a fome saciada é que se será incorporado, novamente, ao mapa da cidadania plena, geral e irrestrita, enfim democrática e, por que não, prazerosa.
E você tem fome de quê?
Nincia Cecília Ribas Borges Teixeira

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESUMO DA OBRA "VÁRIAS HISTÓRIAS", DE MACHADO DE ASSIS

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de família pobre e mulato, sofreu preconceito, e  perdeu a mãe na infância, sendo criado pela madrasta. Apesar das adversidades, conseguiu se instruir. Em 1856 entrou como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional. Posteriormente atuou como revisor, colaborou com várias revistas e jornais, e trabalhou como funcionário público. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Algumas de suas obras são Memórias Póstumas de Brás Cubas , Quincas Borba , O Alienista , Helena , Dom Casmurro e Memorial de Aires . Faleceu em 29 de setembro de 1908. Contexto Histórico Várias histórias foi publicado em 1896, fazendo parte do período realista de Machado de Assis. Os contos da obra são profundamente marcados pela análise psicológica das personagens, além da erudição e intertextualidade que transparecem, como por ex., referências à música clássica, a clássicos da literatura, bem c

Pintores Paranaenses

A partir do século XIX, a pintura passou a se desenvolver no Paraná, incentivada por pintores como o imigrante norueguês Alfredo Andersen, e Guido Viaro, o segundo vindo da Itália. Ambos dedicaram-se ao ensino das artes visuais, além de pintarem suas obras inspiradas principalmente nas paisagens e temas do cotidiano paranaense. Responsáveis também pela formação de novas gerações de artistas no estado, como o exemplo de Lange Morretes, Gustavo Kopp e Theodoro de Bona, todos nascidos no Paraná. Alfredo Andersen, apesar de norueguês, viveu muitos anos em Curitiba e Paranaguá, e ainda hoje é tipo como o pai da pintura paranaense. Foi ele o primeiro artista plástico atuar profissionalmente e a incentivar o ensino das artes puras no estado. Ele se envolveu de forma muito intensa com a sociedade paranaense da época em que viveu, registrando sua história e cultura. Rogério Dias, outro grande exemplo, sempre foi autodidata, sua trajetória artística tem sido uma soma de anos de paciente

Falando "guarapuavês"

Como boa nortista do Paraná, não pude deixar de reparar nas expressões guarapuavanas, que até então eu não ouvia na minha região. No começo, eu estranhava o jeito que o pessoal fala por aqui, e até hoje rio de algumas palavras que eles usam para se expressar. O curioso é observar como nós absorvemos com facilidade outras culturas quando passamos algum tempo inseridos nelas. Estou em Guarapuava há quase dois anos, e a única coisa que falta para eu me inserir de vez na cultura daqui é pronunciar as palavras com terminação “e” e “o” da mesma forma como nós a escrevemos (leitE, gentE, quandO). Eu escolhi algumas expressões (e seus significados) que, a meu ver, são os mais usados nas conversas guarapuavanas. Abaixo seguem essas expressões, e alguns exemplos de como o pessoal as usa entre uma frase e outra. Se você, como eu, não é de Guarapuava, com certeza já reparou que o pessoal fala assim o tempo todo. Se ainda não conhece Guarapuava mas pretende vir pra cá um dia, é interessan