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Beetlejuice, com sequência ou não



Desde março deste ano, uma notícia vem fomentando os fãs de cinema, em especial, os fãs do diretor Tim Burton, e de um de seus filmes mais característicos, Beetlejuice. O filme, que foi lançado em 1988 pode ganhar uma sequência. Mesmo não sendo um fato confirmado pelo diretor, os fãs estão empolgados e já produziram cartazes de uma suposta continuação, que exibe os protagonistas Michael Keaton e Winona Ryder, como um prelúdio de que os mesmos seriam escalados novamente para os papeis.
Um clássico que conquistou as crianças dos anos 1990, Beetlejuice é uma comédia de fantasmas pretensiosa que mata seus protagonistas, Adam e Barbara Maitland, em apenas oito minutos de filme. Assim começa o roteiro normal de uma casa mal-assombrada, porém são os fantasmas que desejam se livrar dos vivos.
O filme é uma demonstração brilhante da sensibilidade única de Tim Burton em relação à cultura pop. Sua estética condiz com um plano dimensional que apenas o próprio Burton poderia criar, repleto de humor negro e certa obscuridade. O resultado é visível, uma tragicomédia cheia de excentricidade e personagens peculiares, lastimosos anti-heróis.  A decisão do diretor de matar seus protagonistas logo nos primeiros minutos é tão chocante quanto seu humor negro, que transforma a cena do acidente fatal em um ensaio humorístico hilário. Esse efeito se da por todo o filme, como na sala de espera eterna onde notamos os postulantes que lá se encontram: uma assistente de mágico serrada ao meio, um explorador com a cabeça encolhida, um mergulhador com um tubarão ainda abocanhado a sua perna. Graças ao tom comicamente sombrio do início do filme, as impressões causadas por esses personagens estão longe de serem mórbidas ou de mau gosto, são hilárias.
Beetlejuice apresenta vários elementos presentes em filmes anteriores do mesmo diretor, como a atmosfera surreal e onírica, o estranho muito bem representado por personagens deslocados do mundo onde vivem buscando a aceitação, o uso exagerado de animação dimensional, efeitos de maquiagem, numerosos musicais e uma visão distorcida da realidade. A inspiração vem do Expressionismo Alemão, com suas formas angulares, fortes contrastes, perspectivas distorcidas e o uso do sombrio. Burton cria uma grande diversão com o pós-vida estruturado com uma sequência de cenas individuais engraçadas e alguns efeitos especiais bregas ao extremo. Tudo isso poderia ser sinônimo de um desastre, mas não nas mãos de Tim Burton, que faz de Beetlejuice um filme com partes geniais. Os efeitos especiais são, por muitas vezes, simples e rápidos, como coisas de pelúcia espetadas com palitos, técnicas de stop-motion e ilusões de ótica.
O filme conta com um ótimo elenco, indo além do personagem principal e meros coadjuvantes. O exuberante Michael Keaton, acostumado a roubar a cena, encontra competidores à altura. Especialmente Winona Ryder e Sylvia Sydney, esta última mostrando-se uma comediante afiada após 60 anos de papéis dramáticos. O espetáculo fica por conta de Catherine O’Hara, que nos mostra o quanto Delia é hilária pelo simples fato de não possuir humor nenhum.  Alec Baldwin, Geena Davis e Jeffrey Jones ficaram um pouco presos pela relativa falta de excentricidade  de seus personagens, talvez uma consequente falta de interesse em seus personagens pela parte de Burton.
O filme é uma visão estilizada, um delírio de surrealismo e expressionismo transformados em emoções populares. O diretor permanece em contato com os sentimentos de seus personagens, mesmo que esteja ridicularizando os mesmos.

Amanda Crissi

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